CURADORIA
Quando entrei pela primeira vez no Cine Rivello, senti como se estivesse invadindo a intimidade daquele espaço sexagenário. Na porta da frente existiam tapumes pregados grosseiramente naquela que era a porta de entrada do cinema. Quilos e mais quilos de uma poeira preta e espessa. Quanto mais adentrava o espaço e percebia o resultado físico de anos de abandono, maior era a sensação de que aquele cinema parecia ter passado bem esses anos sem filme e sem gente, sem a gente.
Ratos, poeira, ácaros, ovos quebrados, talvez de pombos, ou de andorinhas e pardais. A vida habitou o cinema sem os filmes. A vida se fez dentro do Rivello sem ninguém. Só com os ácaros, os pombos, os pardais e o pó. Eis aí meu encanto ao entrar pela primeira vez naquele lugar: percebi que o cinema existiu sem a presença do homem, sem os filmes feitos pelos homens.
Peço, então, licença à comunidade de seres - os vivos e os mortos - que habitam esta sala maravilhosa de mil e cem lugares para anunciar ao povo de Sete Lagoas a Mostra Cine Rivello:
Serão sete filmes a percorrerem pelos sessenta anos tradicional cinema de Sete Lagoas-MG, desde a primeira sessão, em 1958, até a exibição derradeira, em 2005. Obras fundadas na representação do Brasil popular em vários gêneros: filme de máfia, thriller, caipira, histórico, lírico-cósmico-poético, e até filme contemporâneo.
A mostra também contará com a palestra do Professor adjunto de História do Cinema Brasileiro da Universidade Federal Fluminense e coordenador do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual / LUPA-UFF, Rafael De Luna, sobre a história das salas de Cinema no Brasil, além de uma mesa de debate sobre gestão e curadoria de salas de cinema com Leonardo Bonfim, da Cinemateca do Capitólio, de Porto Alegre, e Fabrício Cordeiro, programador do Cine Cultura de Goiânia.
Viva o Cine Rivello e ótimas sessões!
Samuel Marotta.
QUEM SOMOS
No dia 3 de setembro de 1958 acendiam-se pela primeira vez para o público de Sete Lagoas as luzes do imponente cinema de 1200 lugares, o Cine Rivello. O filme de inauguração foi O Céu Por Testemunha, de John Huston, obra importante da cinematografia clássica americana que narra a trajetória de um soldado perturbado pelo ataque japonês à base americana de Pearl Harbor. Após a sessão de estreia foram quase 50 anos de sessões de filmes do mundo inteiro, de todos os gêneros, formas e temas, atravessando as décadas de 1950, 1960, 1970, 1980, 1990 e 2000.
Recentemente, por uma ação conjunta e capitaneada pelo arquiteto Wanderson Ferreira, o Cine Rivello passou pelo processo de tombamento, abrindo assim, a possibilidade de uma volta às atividades. A Mostra Cine Rivello é concebida neste contexto: uma homenagem justa a este espaço cultural tão querido e importante para a história de Sete Lagoas, a incorporar também parte da história do Cinema Brasileiro à partir de filmes fundados na representação do Brasil popular.
A mostra também contará com a palestra do Professor adjunto de História do Cinema Brasileiro da Universidade Federal Fluminense e coordenador do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual / LUPA-UFF, Rafael De Luna, sobre a história das salas de Cinema no Brasil, além de uma mesa de debate sobre gestão e curadoria de salas de cinema com Leonardo Bonfim, da Cinemateca do Capitólio, de Porto Alegre, e Fabrício Cordeiro, programador do Cine Cultura de Goiânia.
EVENTOS
PROJETO RIVELLO
O restauro e revitalização do espaço ganha uma perspectiva altamente viável, o que permite vislumbrar uma nova fase para a cultura local. O Complexo Cultural Rivello suprirá a demanda da cidade por uma casa de espetáculos digna que abrigará a produção artística local, recebendo apresentações de teatro, música, dança, cinema dentre outras, dando oportunidade de acesso à população sete-lagoana em grandes produções culturais. O Complexo de Economia Criativa prevê a implantação de um cineteatro, a criação de um espaço de coworking cultural, sala de exposições, além de abrigar um bar-café em sua cobertura. Temos uma grande expectativa que as obras sejam viabilizadas com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet) e executada por profissionais da própria cidade, como forma de geração de emprego e renda para a comunidade local. Durante as obras, serão desenvolvidas exposições temáticas, visitas guiadas, canteiro escola de restauro, além de palestras e workshops sobre Economia Criativa, envolvendo toda a comunidade no empreendimento cultural.
FICHA TÉCNICA
ARQUITETURA:
Wanderson Ferreira
Anderson Chagas
DOSSIDÊ DE TOMBAMENTO:
Marcus Paullus G. Passos
Márcio Vicente Silveira Santos
Wanderson Ferreira
LAUDO TÉCNICO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO IMÓVEL:
Marcus Paullus G. Passos
Wanderson Ferreira
CONSULTORIA:
Pedro Pederneiras
(mecânica e iluminação cênica)
Marco Antônio Vecci
(acústica)
Amacedo Engenharia
(levantamento arquitetônico e prevenção e combate à incêndio)
Eduardo Guerra
(gestão e planejamento físico financeiro)
Duarte de Paula
(assessoria jurídica)
ASSESSORIA NOS PROJETOS CULTURAIS DE LEIS DE INCENTIVO:
Alberto Camisassa
Bruna Bizzotto
Eduardo Guerra
Samuel Marotta
Wanderson Ferreira
créditos das fotografias: Letícia Marotta
PROGRAMAÇÃO
O CANTO DA SAUDADE
dirigido por Humberto Mauro (BRA, 1952) | 100’ | LIVRE
ANOS
50
Sinopse:
O filme conta a história da filha do Coronel Januário, Maria Fausta, que tem um romance secreto com João do Carmo. O casal desaparece durante a campanha para prefeito do pai de Maria.
FILME EXIBIDO DE 28 DE MAIO A 02 DE JUNHO DE 2021
TRISTEZA DO JECA
dirigido por Amácio Mazzaropi (BRA, 1961) | 95’ | LIVRE
ANOS
60
Sinopse:
Um caipira simples, mas muito popular chamado Jeca, é forçado a se envolver em política quando os líderes da região disputam o cargo de prefeito da cidade.
FILME EXIBIDO DE 01 A 02 DE JUNHO DE 2021
A RAINHA DIABA
dirigido por Antônio Carlos da Fontoura (BRA, 1974) | 100’ | 18 ANOS
ANOS
70
Sinopse:
Apelidado Diaba, uma das figuras mais icônicas da Lapa, região boêmia do Rio de Janeiro, um sujeito precisa encontrar um bode expiatório para salvar o namorado da polícia.
FILME EXIBIDO DE 28 DE MAIO A 02 DE JUNHO DE 2021
A PRÓXIMA VÍTIMA
dirigido por João Batista Andrade (BRA, 1983) | 93’ | 18 ANOS
ANOS
80
Sinopse:
Passado em São Paulo, in loco nas eleições para governador de 1982, as primeiras depois da anistia, "A Próxima Vítima" traz um recado óbvio: por mais que se faça, que se vote, nada vai mudar.
FILME EXIBIDO DE 28 DE MAIO A 02 DE JUNHO DE 2021
MULHERES NO FRONT
dirigido por Eduardo Coutinho (BRA, 1996) | 35’ | 16 ANOS
ANOS
90
Sinopse:
Três exemplos de forte atuação feminina em movimentos sociais: a Associação de Moradores de Jardim Uchôa, em Recife; a Associação de Moradores de Rancho Fundo, no Rio de Janeiro; e o grupo Promotoras Legais Populares em Bom Jesus, Porto Alegre
FILME EXIBIDO DE 28 DE MAIO A 02 DE JUNHO DE 2021
BOCA DE LIXO
dirigido por Eduardo Coutinho (BRA, 1992) | 50’ | 14 ANOS
ANOS
90
Sinopse:
O cotidiano dos catadores de lixo do vazadouro de Itaoca, em São Gonçalo, a 40 km do Centro do Rio de Janeiro. O lixo como trabalho e como estigma. O roubo da imagem alheia, pecado original de todo documentário.
FILME EXIBIDO DE 28 DE MAIO A 02 DE JUNHO DE 2021
VIDA DE MENINA
dirigido por Helena Solberg | (BRA, 2003) | 101’ | LIVRE
ANOS
00
Sinopse:
Pouco após a abolição da escravatura e a proclamação da República no Brasil, Helena começa a escrever um diário, que revela seu universo e um país adolescente como ela. Neste diário, a menina debocha e desmascara as pretensas virtudes alheias.
FILME EXIBIDO DE 28 DE MAIO A 02 DE JUNHO DE 2021
ARÁBIA
dirigido por Affonso Uchoa e João Dumans (BRA, 2018) | 97’ | 16 ANOS
SESSÃO
ESPECIAL
Sinopse:
Em uma fábrica de alumínio em Ouro Preto, Minas Gerais, jovem encontra o diário de um trabalhador que sofreu um acidente.
FILME EXIBIDO DE 28 DE MAIO A 02 DE JUNHO DE 2021
SOBRE A LAB
A Lei Aldir Blanc reconhece a diversidade, estabelece impacto financeiro determinado de R$ 3 bilhões e aponta fontes vinculadas, como o superávit do Fundo Nacional de Cultura até dezembro de 2019.
Seu texto final é fruto de uma ampla pactuação que envolveu o Fórum de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, Confederação Nacional de Municípios, Frente Nacional de Prefeitos, conselhos estaduais e municipais, além dos mais diversos segmentos artísticos e culturais. Como relatora do projeto na Câmara, pudemos acompanhar a mobilização pela lei em todo o país, centenas de pessoas que participaram de reuniões virtuais para debater e contribuir com a iniciativa.
E com essa rara unidade e convergência entre governo e oposição, em um contexto de extrema polarização política e social, a Lei Aldir Blanc demonstra que a cultura brasileira, talvez por falar à alma e a sensibilidade coletiva, tem a capacidade de produzir unidades e consensos. “Não há abismo em que o Brasil caiba”, ecoam as palavras sempre proféticas de Jorge Mautner. E a arte e a cultura tem o papel fundamental na superação dos abismos, na cura das feridas e na recomposição do tecido social brasileiro. A esperança equilibrista há de prevalecer. Viva Aldir Blanc!
Texto de Jandira Feghali para Folha de São Paulo*